
A atmosfera de dezembro já se faz presente em todos os lugares da cidade. No entanto, nem tudo está sendo iluminado pelos reluzentes enfeites natalino. A expectativa das festividades e do ano novo que se aproxima vem acompanhada de uma desagradável sensação de impotência diante das crises que eclodiram sobre nós como ondas turbantes de um revoltoso mar.
E elas se multiplicam...
Ora é a crise financeira internacional egressa de uma exuberante e hiperbólica valorização de imóveis e afins. Ora é a crise das águas: tragédias em Santa Catarina pelo seu excesso diluviano; e, tragédia nas áreas nordestinas secularmente atingidas pelas secas, mas que agora é parte do processo do aquecimento global, e somos, cada um de nós responsáveis. Há, também, a crise da moral devastada por uma aculturação imoral travestida de musicas e outras mídias cheias de triplo, quádruplo, quíntuplo sentidos expondo o que de pior existe nos relacionamentos amorosos e formando gerações de deficientes do afeto, do amor e do sexo.
E ainda, a crise dos relacionamentos mais profundos, dos laços familiares triturados pelos atos infames e inomináveis que presenciamos no ano ainda em curso. Filhos jogados pelas janelas, filhos mortos pelos pais. Pais agredidos, famílias destruídas. Crise de segurança, de confiança...
Ufa!...Um turbante e revoltoso mar prestes a engolir com as suas vagas o frágil barco de nossa existência. Como em Mateus 14.22-34:
Assim também estavam os discípulos naquele barco, naquele mar, naquela noite infindável de pensamentos confusos, de solidão, de medo e espanto. O sereno e tranqüilo mar da Galiléia geralmente é assolado pelos ventos que cortam as montanhas de Israel transformando aquela calma em terrível tempestade. Repentina, apavorante, destruidora.
- Aí! De nós – talvez gritassem os apóstolos, e como eles nós também – quem será por nós nessa noite escura, nesse imenso mar, e já sem forças? – Pois já era a quarta vigília, quando o pescador está no limite.
Mas, algo está para acontecer, grandioso e transcendente. O Mestre surge entre ondas rompendo a previsibilidade das leis físicas e superando as impossibilidades do raciocínio lógico do ser humano – andando sobre as águas! E por causa das previsibilidades e das impossibilidades vem o susto:
- É um fantasma!
A voz de Cristo é o balsamo da paz:
- Não temais SOU EU.
Jesus é aquele que em meio as impetuosas e ameaçadoras ondas caminha tranqüilo sobre elas. Mas, Ele é Ele. O Senhor. O Logos Criador. Ele pode. Quanto a mim, a você, a nós, quem somos? Que podemos?
Naquela noite, porém, a fé seria um diferencial.
- Se és tu, Senhor, mandas-me ir ter contigo por sobre as águas. - Porque se tu ordenares andarei por sobre as águas, por sobre as ondas, por sobre as crises. Sob a tua Palavra caminharei.
A resposta é imperativamente eficiente:
- VEM!
E Pedro foi, e andou e venceu...até...até...até...o vento e o rugido lhe desviarem o foco d”Ele. E Pedro afundou.
E como Cristo não estava ali apenas para um espetáculo místico, ralha a pequenez de sua fé, mas não o exclui da salvação, fazendo-o novamente caminhar, por sobre as águas de volta ao barco e, diante dos atônitos apóstolos ordenar a calmaria e ser obedecido.
Em meio a tantas ondas bravias (crises), observemos o nosso Mestre, não como um mero personagem místico, um ser fastasmagórico, empalidecido a agonizante na cruz; que conhecemos apenas numa relação religiosa, doentia e alienante. Mas, o contemplemos como o triunfante Senhor no qual o mar, as ondas e o próprio universo curvam-se ante o seu poder e que conhece intima e pessoalmente os meus dramas, minhas fraquezas, no entanto, ordena: VEM!
E quando Ele chama. E quando eu, você, nós obedecemos, o improvável, o inesperado, o impossível acontece: as águas tornam-se o tapete suave onde caminharemos sem ferir os pés.
- VEM!
As crises podem ser muitas, podem ser fortes, podem ser grandes, mas, seguindo o Mestre, teremos nelas as oportunidades de ver a fé fazer a diferença e o mar ronronar tranqüilo.